foto: arquivo pessoal
Michel Barreto nem sequer acreditou no que viu. Era manhã de segunda-feira, dia 8 de janeiro de 2024, quando saiu de casa, no bairro de Lagoinha, em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, carregando uma caixa, escovas, cera e flanela, por 60 km de ônibus até o Aeroporto Santos Dumont.
Eu estava com aluguel atrasado, não tinha engraxado nenhum sapato, minhas crianças não tinham o que comer dentro de casa. Mas não é pela quantia, eu sou fã dele.
Michel Barreto e Endrick no Aeroporto Santos Dumont — Foto: Acervo Pessoal
– Eu estava no ponto de trabalho quando vi uma multidão e eram os meninos da Seleção chegando. Ele desembarcou depois, uma criança parou e tirou foto, aí fui na direção dele e disse: “Bom dia, posso tirar uma foto contigo?” – conta.
– O Michel chegou com toda humildade, mas eu estava de tênis. Parei para conversar, ele contou muito sobre a história de vida dele, da família, das filhas pequenas e do quanto ele luta para ganhar o pão de cada dia – conta Endrick.
– Eu sou verdadeiro, mostrei minha família. Ele falou: “Me dá seu pix”. Eu dei o número, agradeci a ele e fui para o Wi-Fi do aeroporto, porque não tinha crédito no celular.
Quando conectei no Wi-Fi, falei: Meu Deus, R$ 1 mil. Não acreditei. Três crianças, aluguel… Na hora que eu ia agradecer de novo ele já não estava mais.
PIX mostrado por Michel Barreto em vídeo do Embaixada — Foto: Reprodução / Embaixada
Michel compartilha a admiração pelo atacante e orações para a família de Endrick. Desde o encontro no aeroporto, ganhou atenções nas redes sociais por conta de um vídeo divulgado pela página Embaixada e tem sido bombardeado com mensagens no WhatsApp, que só conseguiu abrir nesta segunda-feira por conta dos créditos no celular.
Ele conta que assim garantiu o aluguel de casa, o leite da filha mais nova e a pomada de outra, que está com uma alergia na perna. Há duas décadas como engraxate, costumava voltar para casa com R$ 120 a R$ 80 de ganhos por dia, mas agora o movimento caiu – e com cada sapato a R$ 10 não consegue mais atingir os mesmos valores.
Sempre foi correria, sempre fui engraxate. Comecei por causa de necessidade, mas lá atrás bombava, agora é média de três ou quatro sapatos por dia. Muito mal dá para levar o pão de cada dia. Mas com dia ou com chuva a gente está na correria.
— conta.
Materiais com que Michael Barreto trabalha no aeroporto Santos Dumont — Foto: Reprodução / Embaixada
Michel se admira pelo volume de mensagens chegando no celular enquanto conversa por telefone. Sorri com bom humor e declara: Endrick é craque. E ele um fã que carrega a nova foto com orgulho.
Vou emoldurar em um quadro.
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