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Fuga de Mossoró, nota técnica sobre aborto e declaração de Lula sobre Israel catalisaram processo de aglutinação dos opositores ao governo
14 de fevereiro, 18 de fevereiro e 28 de fevereiro. Em quinze dias, a oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhou três munições que dialogam com os valores mais basais para a direita brasileira: família, religião e segurança pública.
O fato inédito colocou uma crise no colo do novo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, empossado com pompa pelo presidente depois de sua saída do Supremo Tribunal Federal. Com 14 dias no cargo, o sucessor de Flávio Dino recebeu a notícia de que havia a intenção de convocá-lo à Câmara e ao Senado para dar explicações sobre o fato.
“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o presidente.
O terceiro ato que movimentou a oposição foi a nota técnica sobre o aborto baixada pelo Ministério da Saúde. Revogada logo depois de sua publicação, o documento propunha mudar o prazo dos abortos legais de 21 semana para 9 meses.
Nísia já vinha se tornando alvo prioritário para os opositores de Lula pela disputa de cargos do Ministério da Saúde nos estados e por conta da situação da dengue no país. O orçamento da pasta é um dos maiores, com mais de R$ 200 bilhões no caixa em 2024.
Sem querer, o governo acabou ofuscando a nova fase da carreira de Lewandowski, a saga internacional de Lula se apresentando como mediador de conflitos no Sul Global e os esforços da Saúde no combate à dengue.
Aliados do presidente poderiam dizer que as declarações sobre Israel tiveram impacto calculado, que a fuga de Mossoró foi consequência de um sistema herdado em frangalhos e que a nota do aborto foi um equívoco pontual rapidamente corrigido.
O problema é que não dá para voltar atrás e, em um ano em que o governo tem pressa pra aprovar medidas cruciais, ter a oposição unida em atacá-lo pode ser um revés pesado. Faltam apenas quatro meses e meio para o recesso parlamentar do meio do ano — que será emendado com o início das campanhas nas cidades para as eleições –, quando Brasília deve funcionar em operação tartaruga, como de costume.
Ou o governo se concentra em não errar ou pode ficar difícil para recuperar o tempo perdido.
CNN