Bioma já acumula 102.993 queimadas. El Niño e seca são fatores importantes, mas o governo admite necessidade de mais ação contra o fogo
Deivid Souza-Metrópoles
Seguindo a curva da média histórica, este mês de setembro já é o com mais queimadas no ano também. Até quinta, foram 39.804 focos de calor, número acima da média histórica de 32,2 mil para o mês. O recorde anual aconteceu em 2004, quando o fogo foi identificado 218.637 vezes. As queimadas são monitoradas pelo Inpe desde junho de 1998.
No acumulado de janeiro a agosto deste ano, houve 63.189 queimadas. O número é mais do que o dobro do que foi registrado no mesmo período de 2023: 31.489.
Pelo histórico, a tendência é que o fogo diminua em outubro. Na média, o mês costuma registrar metade das queimadas de setembro. O fim do verão amazônico é a explicação, pois com as chuvas, reduz-se de maneira importante o fogo no bioma.
Seca
As queimadas neste ano, no entendimento da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, são impulsionadas pela seca histórica.
A fala da ministra encontra amparo em dados científicos. O Monitor de Secas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) identificou, no levantamento mais recente, que em agosto havia 3.978 municípios com algum grau de seca. O Brasil tem 5.570 cidades.
“O El Niño que é um fenômeno climático que naturalmente faz com que o período seco seja mais severo do que o normal (…), em 2023, foi um El Niño severo”, explica a diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar.
Resposta
O fenômeno climático da seca extrema, no entanto, não explica por si só o aumento nas queimadas. A própria ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima admitiu que as ações governamentais para conter o fogo na Amazônia estavam aquém do necessário.
A especialista do Ipam destaca medidas importantes para conter o fogo. “Essa questão de restringir o crédito nas áreas que foram queimadas, evitar com que as áreas de florestas públicas que foram queimadas sejam regularizadas ou passíveis regularização no futuro, aumentar as penas para quem provoca incêndios”, relaciona Alencar.