Argentina: Justiça confirma 6 anos de prisão para Cristina Kirchner

Com decisão, a ex-presidente pegará 6 anos de prisão por corrupção e está proibida de exercer qualquer cargo público

Cristina Kirchner

A Justiça argentina confirmou, nesta quarta-feira (13/11), a sentença que condenou a ex-presidente Cristina Kirchner a seis anos de prisão por corrupção e que a proibiu de exercer qualquer cargo público. Kirchner traça um paralelo com a prisão do presidente Lula em 2018 para se considerar vítima de uma perseguição política. Do lado de fora do tribunal, militantes da ex-presidente protestaram contra a sentença e contaram com a participação da ex-deputada brasileira Manuela d’Ávila.

Existia unanimidade entre analistas, fontes dos tribunais de Justiça, militantes de esquerda e até mesmo de Cristina Kirchner de que a decisão judicial de primeira instância seria confirmada.

“O processo começou como um show e vai terminar da mesma maneira. Como sustentamos, a perseguição tem como objetivo deixar fora do tabuleiro político aqueles que lideram governos nacionais, democráticos e populares”, publicou Cristina Kirchner nas redes sociais, horas antes da leitura da sentença.

O Ministério Público pediu a duplicação da pena, elevando a condenação para 12 anos de prisão, enquanto a defesa de da ex-presidente pediu a anulação do processo. Em 2022, a demanda do MP provocou uma onda de manifestações na Argentina.

Já se sabe que a ex-presidente deverá apelar ao Supremo Tribunal, e o novo Código Penal argentino determina que o cumprimento da pena só pode ser iniciado quando houver uma sentença definitiva. Por isso, por mais que a Justiça tenha confirmado a condenação em segunda instância, Kirchner não será presa.

Em 6 de dezembro de 2022, a ex-presidente foi considerada culpada de favorecer a província de Santa Cruz, berço político dos Kirchner, com a atribuição de 51 contratos de obras públicas ao empresário Lázaro Báez, considerado um testa de ferro dos Kirchner.

Ela foi condenada por fraude contra a administração pública, um crime que implica a proibição de assumir qualquer cargo público, elegível ou não. No entanto, como Cristina Kirchner tem mais de 70 anos de idade, mesmo que, no futuro, o Supremo confirme a condenação, ela poderá pedir a prisão domiciliar.

No Congresso existe um projeto em debate para criar na Argentina a Lei da Ficha Limpa, copiada do Brasil, inclusive no nome. Se esse projeto de lei avançar, Kirchner será politicamente impedida de disputar as eleições legislativas de outubro de 2025, quando ela poderia se candidatar a uma vaga de deputada e, consequentemente, ganhar imunidade parlamentar.

Fraude em licitações

O processo pelo qual a ex-presidente foi julgada abrange apenas as estradas na província de Santa Cruz, no extremo sul do país, no período de 2003 a 2015. A fraude ao Estado foi estimada em US$ 1 bilhão que, corrigidos para valores atuais, equivaleria ao triplo do cálculo feito na época. O suposto esquema começou a funcionar poucos dias antes de o então ex-presidente, Néstor Kirchner, marido de Cristina, assumir o cargo, em maio de 2003.

Em 50 das 51 obras analisadas, houve superfaturamento de até 102%. Quase a metade das obras foram abandonadas antes de serem concluídas, mas foram pagas integralmente por ordem direta de Cristina Kirchner, depois de ela assumir a Presidência. As licitações eram forjadas com empresas de fachada que também pertenciam a Lázaro Báez.

“Qual é a cereja do bolo e o verdadeiro objetivo? A minha inelegibilidade perpétua para cargos públicos”, concluiu.

Protestos de militantes

Do lado de fora do tribunal, militantes e aliados de Kirchner realizaram uma aula pública sobre a teoria de “lawfare”, lembrando o processo que conduziu Lula à prisão em 2018. Três anos depois, as condenações contra o petista foram anuladas pelo STF. Haverá representantes da esquerda brasileira, entre eles a ex-deputada do Partido Comunista do Brasil Manuela d’Ávila.

Além da leitura da sentença de Kirchner, outras 13 sentenças devem ser confirmadas, como a do empresário Lázaro Báez, do ex-secretário de Obras Públicas José López e do ex-diretor do Departamento de Estradas de Rodagens Nelson Periotti. Todos foram condenados a penas que variam de três a seis anos prisão por formarem uma associação criminosa.

Com informações do portal RFI.

Receba Informações na Palma da Sua Mão