Vice de Nunes diz que abusos de PMs refletem “descrédito da Justiça”

Ex-Rota, Mello Araújo condena ações, mas as classifica como atos isolados; sobre a prefeitura de SP, diz que Bolsonaro não indicará cargos

coronel-mello-araujo-ceagesp

São Paulo — O vice-prefeito eleito de São Paulo, coronel Mello Araújo (PL), classificou os recentes casos de abusos cometidos por policiais como “lamentáveis” e afirmou que os responsáveis deverão pagar um “preço muito caro”.
Ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), batalhão de elite da Polícia Militar, Mello entende que os episódios refletem um “descrédito da Justiça” por parte dos agentes.
“Eu conheço a minha instituição. A Corregedoria é muito forte, bate pesado. A chance de esse policial perder a farda é gigantesca”, afirmou em entrevista ao Metrópoles, referindo-se ao policial preso após arremessar um homem de uma ponte, na última segunda-feira (2/12), durante abordagem.

Embora condene a atitude do agente, Mello afirma que esse e outros casos recentes envolvendo violência policial são motivados por um sentimento de que a justiça não é feita.

“Não existe discussão, está errado. Mas precisamos entender por que está acontecendo isso. Estou falando de forma geral. Esse policial é da sociedade. Por que a sociedade está resolvendo os problemas da forma que entende que é certo, e não seguindo a lei? Hoje você prende uma pessoa e sabe que ela vai ser solta. Quando começa a acontecer isso, as pessoas não acreditam mais na Justiça”, afirma, defendendo um endurecimento da Lei de Execuções Penais.

Apesar da avaliação, o vice eleito classifica as ações como atos isolados. “Temos milhares de atendimentos todos os dias. Aí surgiu uma sequência (de abusos) e a imprensa fica com o olho mais aguçado”, disse.

Na última quinta-feira (5/12), o governador Tarcísio de Freitas admitiu, pela primeira vez, que há uma crise na Polícia Militar. Ele afirmou que é preciso ter “humildade” e reconhecer que “alguma coisa não está funcionando”. Segundo o governador, há falta de treinamento. Mello Araújo diz concordar com o governador.

Indicado à vice da chapa de Nunes pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Mello vai assumir a Secretaria Executiva de Projetos Estratégicos da prefeitura. Vinculada à Secretaria de Governo, a pasta é responsável pelos programas do município voltados à Cracolândia, mas o vice diz que vai atuar em diversas áreas da gestão.

De acordo com ele, Nunes lhe ofereceu secretarias como a de Transportes, Segurança Urbana e Esportes, mas optou por uma função mais ampla. “O Ricardo me deixou bem à vontade e falei que queria ajudar no que for. Se você pega uma secretaria específica, segurança, o que for, seu foco vai ser aquilo. E eu gostaria de estar em todas [as áreas]. Acho que consigo ajudar ele mais nisso”, diz.

Por ora, ele afirma precisar apenas de dois assessores, seguranças e algum responsável por suas redes sociais. “Posteriormente vou vendo as demandas. Não trabalho com esse lado de amizade. Trabalho com quem tem condições de executar o que preciso”, afirma. Bolsonaro

Próximo de Bolsonaro, Mello diz que mantém conversas constantes com o ex-presidente. Ele garante que o padrinho não indicará nomes para compor cargos na nova gestão Ricardo Nunes. “Ele não é uma pessoa de ficar pedindo nada. Na Ceagesp nunca me pediu nenhum cargo”.

Sobre a falta de engajamento de Bolsonaro na campanha de Nunes, o aliado diz que o ex-presidente atuou como um “camisa 10 no banco de reservas” – que, se precisar, “entra em campo”.

Ele cita o episódio quando, a seu pedido, Bolsonaro gravou uma live de apoio a Ricardo Nunes às vésperas do primeiro turno. Naquele momento da campanha, Pablo Marçal (PRTB) ameaçava a vaga do emedebista no segundo turno. “Entendemos que era uma coisa que poderia somar e que, naquele momento, seria importante. Acho que foi na medida certa”, relembra.

O ex-Rota defende o ex-presidente do indiciamento da Polícia Federal (PF) que acusa Bolsonaro e ex-integrantes de seu governo por tramarem um golpe de Estado no país. Eles são suspeitos dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

“Ninguém gosta de ficar o tempo inteiro sendo acusado de coisas que não procedem. E todas as acusações vão caindo por terra. Faz mais de quatro anos que a imprensa e o sistema vão para cima dele. Se ele fosse um bandido, estaria preso. Então, infelizmente, é uma perseguição injusta contra o presidente Bolsonaro”, argumenta.

Polícia Federal afirma que as provas foram obtidas ao longo de quase dois anos, “com base em quebra de sigilos telemático, telefônico, bancário, fiscal”, bem como em “colaboração premiada, buscas e apreensões, entre outras medidas devidamente autorizadas pelo Poder Judiciário”.

Receba Informações na Palma da Sua Mão